2021 está chegando ao fim e foi mais um ano em que infelizmente tivemos que nos privar do contato frequente com amigos e familiares devido à pandemia. Apesar de toda a tristeza e ansiedade gerada pela situação, o momento se mostra propício para falarmos mais uma vez sobre a importância e a força dos vínculos afetivos e familiares. Para nós, foram dois anos com vínculos por vezes menos próximos, mas para muitas crianças e adolescentes que vivem em abrigos, os vínculos familiares são praticamente inexistentes, e será mais um Natal e Ano Novo longe da convivência e do afeto que só uma família é capaz de proporcionar.

Vínculo afetivo é tudo aquilo que estabelece uma ligação afetiva ou moral entre duas ou mais pessoas, e a falta de vínculos na infância é um mal avassalador. A pesquisa conhecida como “Órfãos da Romênia” revela que crianças acolhidas institucionalmente por tempo prolongado, especialmente durante os primeiros anos de vida, podem ter sérios déficits cognitivos, incluindo diminuição de QI, aumento do risco de distúrbios psicológicos, redução da capacidade linguística, dificuldade de criação de vínculos afetivos, crescimento físico atrofiado, entre inúmeros outros graves problemas, alguns deles irreversíveis.

Estudos comprovam que, a cada ano que uma criança fica acolhida em uma instituição, sem vínculos afetivos ou dedicação às suas necessidades individuais, o resultado são quatro meses de déficit em seu desenvolvimento integral (dados B.E.I.P.).

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Vínculo afetivo: ligação afetiva ou moral entre duas ou mais pessoas, incluindo pais e filhos.

Vínculos no acolhimento familiar

Infelizmente, por melhor que seja um abrigo e a equipe que nele trabalha, ele não será suficiente para a construção dos vínculos afetivos e estáveis que só a dedicação exclusiva de uma família é capaz de proporcionar. Assim, a família acolhedora constitui papel fundamental, oferecendo todo o acolhimento necessário, o cuidado individualizado e o afeto necessários ao desenvolvimento, para crianças e adolescentes que precisam de proteção enquanto aguardam a decisão de sua situação.

Quem se habilita a ser família acolhedora, tem como objetivo principal prover à criança ou adolescente um ambiente seguro e amoroso, que lhe dê a possibilidade de se desenvolver, apoiado na vida em família e em comunidade. Uma vida que proporcione afeto, amizade, amor e segurança física e emocional. O apego é uma face do amor, que vai proporcionar ao acolhido as condições de se desenvolver, ao sentir que está sendo protegido e amado.

Se houver a criação de apego ou vínculo na família acolhedora, significa que se cumpriu o que era esperado, afinal é esse o sentido do acolhimento familiar: desenvolver vínculos seguros, de amor e afeto que serão fundamentais para o desenvolvimento pleno da criança ou adolescente.

Seja no acolhimento familiar, seja na adoção, o vínculo entre a família e a criança ou adolescente é um processo que se consolida diariamente através da confiança, da presença e do afeto, mas é importante lembrar que cada criança é única e reage de forma diferente. Crianças maiores e adolescentes que já passaram por traumas e rupturas de vínculo com sua família de origem, com a vivência em vários abrigos e devoluções de adoção, podem se mostrar mais resistentes ao afeto, uma vez que há o medo inconsciente de novamente precisar lidar com o rompimento brusco desses vínculos.

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O vínculo entre a família e a criança é um processo que se consolida diariamente através da confiança, da presença e do afeto.

 

Vínculos na adoção

Com maturidade e tranquilidade, os pais pela via da adoção precisam auxiliar seus filhos a entender a situação, acolhendo suas experiências com paciência e compreensão. E, e ao mesmo tempo, demonstrando que isso não invalidará a construção de um novo vínculo com familiares que estão disponíveis para amá-los, cuidá-los e protegê-los para o resto de suas vidas.

Para famílias acolhedoras e pais por adoção, uma das formas de ressignificar e construir novos vínculos é através da atitude adotiva. Na atitude adotiva temos momentos importantes de aprendizado, como aprender a ouvir, acolher e respeitar a história que já veio com a criança, que a partir de agora passará a se intercalar com a da nova família.

Outra estratégia que auxilia muito na construção de vínculos é a psicologia positiva, que consiste em enfatizar as qualidades e reforçar as habilidades positivas da criança, desenvolvendo-as em seu processo de aprendizado.

Vínculos na Primeira Infância

A arquitetura cerebral do ser humano é estabelecida nos primeiros anos de vida, com impactos na aprendizagem, no comportamento e na saúde, para a vida toda. As interações positivas no ambiente familiar e comunitário, criando vínculos estáveis desde a Primeira Infância, faz com que crianças se tornem adultos seguros e saudáveis física e emocionalmente.

O alicerce seguro construído pelos adultos faz com que a criança sinta confiança em explorar o mundo, sabendo que tem uma base para onde retornar: sua família!

Por outro lado, a falta de afeto, de vínculo estável e seguro e de trocas com pessoas de referência é extremamente prejudicial para o desenvolvimento de crianças e adolescentes. A criança cujos responsáveis se mostram indisponíveis ou não conseguem identificar e atender suas necessidades tende a criar vínculos mais frágeis, desencadeando problemas emocionais, cognitivos e comportamentais. A negligência e os maus tratos na Primeira Infância resultam em problemas de saúde física e emocional e se estendem, como já falamos, para o convívio social por toda a vida.

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Falta de afeto e de vínculo estável e seguro é extremamente prejudicial para o desenvolvimento de crianças e adolescentes.

Teoria do Apego

Desenvolvida pelo psiquiatra britânico John Bowlby, entre as décadas de 1950 e 1960, a Teoria do Apego procura explicar como ocorre – e quais as implicações para a vida adulta – dos fortes vínculos afetivos entre o bebê e seu provedor de segurança e conforto. Bowlby recolheu relatos e fez observações entre a interação da mãe com o bebê. Os dados que recolheu indicavam para uma direção diferente da ideia vigente na época, que associava à alimentação a razão pela qual a criança desenvolvia um forte laço com sua mãe.

Atualmente, a Teoria do Apego está na base do conceito de vinculação, fundamental na construção de relações sadias e seguras, tanto na adoção quanto no acolhimento familiar. E mesmo sabendo que o lar da família acolhedora é temporário, a criação de vínculos estáveis nesse período de transição pode servir de base emocional para que a criança consiga desenvolver todas as suas potencialidades e possa construir relacionamentos com confiança e afetividade.

 

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