A criança que chega na família acolhedora ou na família adotiva traz, muitas vezes, experiências traumáticas por causa dos problemas que ocorreram na família de origem, da permanência em casas de acolhimento institucional ou devido às rupturas que sofreu.  Mesmo pequena, ela já sabe que o mundo “tem uma parte ruim”, o que pode gerar comportamentos de defesa e desconfiança que precisam ser trabalhados com todo o carinho e paciência. É aí que entra a psicologia positiva, que consiste em enfatizar as qualidades e reforçar as habilidades positivas da criança, desenvolvendo-as em seu processo de aprendizado.

Existem diversos estudos sobre a psicologia positiva que mostram, como o próprio nome diz, que essa forma de lidar com crianças gera emoções positivas, resultado de uma abordagem empírica com o bem-estar e a felicidade.

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Precisamos mostrar que apesar das dificuldades a vida pode sim, ser positiva!

Mas como funciona na prática?

A satisfação pessoal da criança com suas conquistas, como por exemplo ao aprender algo novo, deve ser comemorada e enfatizada, para que ela se enxergue como indivíduo e se valorize desde cedo, construindo assim uma autoestima sólida.

Não se trata de criar um ser humano narcisista ou que não aceita as derrotas da vida, mas sim mostrar que, apesar dos percalços e das frustrações, é possível ter bons momentos e comemorá-los.

Lembrando que, como dissemos no início, essas crianças já passaram por momentos de estresse e risco, portanto elas sabem desde cedo (cedo até demais), que a vida não é um mar de rosas. Mas precisamos mostrar que apesar das dificuldades a vida pode sim, ser positiva!

Relacionamentos entre os familiares e a criança, baseados na cumplicidade, no cuidado, na paciência e na criação de vínculos são extremamente positivos para a personalidade que está se desenvolvendo, gerando repercussões positivas óbvias na vida adulta.

As mudanças cerebrais e cognitivas acontecem com maior velocidade na Primeira Infância, e quanto maior a quantidade e qualidade dos estímulos, maior e melhor também será o desenvolvimento.

Importante lembrar que nessa abordagem, os castigos, as ameaças e o uso de violência verbal e física como forma de educar estão completamente descartados e têm se mostrado pela prática, ineficazes e ainda mais traumatizantes, especialmente com as chamadas “crianças difíceis”.

No campo psicológico, ao invés de focar apenas nos problemas a resolver, devemos fortalecer aquilo que já é bom, promovendo o potencial da criança. Isso vai ajudar inclusive no momento em que ela precisar lidar com questões estressantes, pois a psicologia positiva amplia o equilíbrio entre o positivo e o negativo, trazendo uma visão mais completa do ser humano.

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A psicologia positiva deve se estender aos professores e profissionais que lidam com a criança regularmente.

Psicologia positiva também na sala de aula

A prática da psicologia positiva não deve se limitar apenas ao ambiente familiar. Além da família acolhedora ou adotiva e dos parentes mais próximos, ela deve se estender aos professores e também aos profissionais que lidam com a criança regularmente, como educadores, psicólogos e assistentes sociais, promovendo a atenção plena e reforçando os relacionamentos positivos.

Estudos mostram melhorias significativas no desempenho escolar, nas habilidades sociais e na visão que as crianças têm de si mesmas, com a prática da psicologia positiva. Os resultados em sala de aula se mostraram promissores não apenas no bem-estar dos alunos, mas também na produção acadêmica e clima escolar.

O número de escolas que se especializam em educação positiva vem crescendo. Essas escolas, além da grade curricular convencional, trabalham com a educação emocional positiva, estimulando a aprendizagem das habilidades associadas ao bem-estar e ao desenvolvimento humano, seus talentos pessoais e pontos fortes individuais.

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Interações positivas nas relações de afeto, com os pais ou cuidadores, são essenciais.

A força e importância dos vínculos

Sabemos que a arquitetura do cérebro é estabelecida nos primeiros anos de vida, impactando na aprendizagem, no comportamento e na saúde ao longo de toda a vida.

O cuidado no dia a dia com as crianças que estão na Primeira Infância é fundamental para que elas se desenvolvam e se tornem adultos seguros, física e emocionalmente saudáveis. É aí que entra a necessidade de interações positivas nas relações de afeto, com os pais ou cuidadores, para a criação de vínculos estáveis, seguros e duradouros.

Vínculo: o que tem capacidade de ligar, unir, atar uma coisa a outra. O que estabelece uma ligação afetiva ou moral entre duas ou mais pessoas.

Em resumo, devemos ser acolhedores e responsivos, pois a criança necessita basicamente de conforto e segurança emocional. Os adultos devem construir um alicerce seguro, para que a criança sinta confiança em explorar o mundo sabendo que tem para onde voltar, que tem com quem conversar sobre suas questões, onde conseguir conselhos e recarregar suas energias. Afinal, família é a base de tudo, seja qual for a configuração familiar!

A criança cujos responsáveis não se mostram disponíveis ou não conseguem identificar suas necessidades tende a criar vínculos mais frágeis, desencadeando problemas emocionais, cognitivos e comportamentais no futuro. A negligência e os maus tratos na Primeira Infância resultam em problemas de saúde física e emocional e se estendem por todo o convívio social no decorrer da sua vida, seja na escola, no trabalho ou nas interações sociais.

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Adultos devem construir um alicerce seguro, para que a criança sinta confiança.

O papel do Estado

Existe um ditado africano, que diz que “É preciso uma vila inteira para criar uma criança”, ou seja, a responsabilidade de educar não é apenas dos pais, mas de toda a família, da comunidade, da escola e do Estado.

Além de garantir à criança e ao adolescente o cumprimento de todos os direitos que constam no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o Estado deve também investir para protegê-la.  A prevenção deve ocorrer não apenas depois que ocorre algum tipo de violência, mas sim realizando programas preventivos com as famílias desde o início.

É preciso ensiná-las a reconhecer e trabalhar com os pontos fortes dos pequenos, a oferecer corretamente o estímulo e a atenção que elas necessitam. E dar condições para tal, através de políticas públicas que assegurem o cumprimento dos direitos previstos, garantindo assim um desenvolvimento saudável e positivo.

*Com informações obtidas em Scielo, USP, SBCoaching, Vittude e ChildFund Brasil.

 

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