Mundialmente, o suicídio está entre as cinco maiores causas de morte entre jovens com idade entre 15 e 19 anos, ficando no triste primeiro lugar em alguns países. O assunto deve ser tratado esclarecido com seriedade, para que a prevenção do suicídio de crianças e adolescentes se torne mais efetiva. Aqui, buscamos traçar um panorama geral com o objetivo de informar e conscientizar a sociedade sobre essa “tragédia silenciosa em nossas casas”, como diz o Programa de saúde mental e bem-estar na escola de autoria do Psiquiatra Luiz Rojas Marcos, amplamente divulgado na web, nas redes sociais e nas escolas.

O que dizem os números

Segundo dados do Manual de Prevenção do Suicídio para Professores e Educadores da Organização Mundial da Saúde (OMS), o suicídio entre crianças menores de 15 anos é incomum e raro até antes dos 12 anos. A maioria dos suicídios ocorre entre as crianças maiores de 14 anos, principalmente no início da adolescência. Porém, em alguns países há um aumento alarmante nos suicídios entre crianças menores de 15 anos, bem como na faixa etária citada no início desse texto. Além disso, meninos cometem mais o ato que as meninas – e uma das explicações pode ser o contato com métodos mais violentos. A taxa de tentativas entre elas é de duas a três vezes maior, porém as meninas têm mais facilidade em se expor, falar sobre seus problemas e procurar ajuda, o que acaba evitando casos fatais.

No Brasil os dados diferem e ao mesmo tempo complementam a análise acima: de acordo com a publicação Mapa da Violência baseada em dados coletados pelo Ministério da Saúde, entre 2002 e 2012 houve um aumento de 40% no suicídio de crianças com idades entre 10 e 14 anos, e de 33,5% entre jovens de 15 a 19 anos. O número de casos de suicídio de crianças e adolescentes ou tentativa de suicídio não pode ser verificado com base naqueles que chegam aos hospitais, pois há muitos que jamais chegam a ir ao hospital.

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Maioria dos suicídios ocorre entre as crianças maiores de 14 anos, principalmente no início da adolescência.

Como identificar?

O manual da OMS foi elaborado para professores, educadores, médicos, enfermeiros e assistentes sociais, mas é claro que podemos e devemos divulgá-lo para todos aqueles que lidam e cuidam de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade e, portanto, mais sensíveis a transtornos emocionais que podem levar, em última instância, ao suicídio.

Mas como é possível identificar uma possível propensão ao suicídio de crianças e adolescentes? No caso do adolescente, por exemplo, o próprio curso da idade e do seu desenvolvimento pode trazer características que se confundem com a depressão, como disfunção no sono, baixa autoestima, ansiedade e problemas de concentração.

A percepção existencial que ocorre nessa época da vida, como a compreensão da vida e morte, pode trazer pensamentos sobre suicídio vez ou outra, de formal normal, necessitando apenas orientação e conversa. O que deve sempre ser levado em consideração é a intensidade, profundidade e duração dos pensamentos suicidas, bem como o contexto em que eles surgem e a dificuldade em tirar a atenção da criança ou adolescente desse tipo de pensamento. Aí sim, distinguimos a pessoa que se encontra em conflito e devemos procurar ajuda!

Não podemos bater o martelo em um padrão, pois cada caso é extremamente particular e requer análise minuciosa, mas listamos alguns comportamentos que podem evidenciar problemas, tais como: depressão, queda do rendimento escolar, isolamento social, aumento da irritabilidade e crises explosivas, alterações no comportamento, preocupação com temas relacionados à morte, uso de álcool ou drogas e claro, tentativas suicidas anteriores.

Muito mais próximas àqueles que como nós convivem com crianças em situação vulnerável estão as questões relacionadas à instabilidade familiar, como violência de qualquer tipo, histórias de suicídio na família, abuso sexual e cuidado insuficiente ou autoridade excessiva por parte dos adultos responsáveis.

Transtornos psiquiátricos, alimentares e dificuldades sociais, como ocorre com aqueles que possuem inconformidade com os atributos de gênero e também os que sofrem bullying (ou seja, a não aceitação social), também devem ser levados em consideração.

Ainda assim, temos apenas um resumo. O tema é delicado e cheio de nuances, portanto alguns padrões, ainda que frequentes, não necessariamente estão sempre presentes, tampouco significa que esses padrões definitivamente desencadearão o pensamento suicida.

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Há uma série de comportamentos que, se observados, podem ajudar a identificar a propensão ao suicídio.

Como proteger e prevenir?

Os vínculos são uma das principais chaves para prevenir inclinações suicidas entre crianças e adolescentes. O apoio familiar é essencial, assim como as relações sociais, em festas, na família, na escola, nos esportes, etc. Incentivar a criança ou adolescente a acreditar em si mesmo, estar aberto a ouvi-lo e a compartilhar experiências, aprendizados e orientações também é primordial.

As boas experiências promovem a autoestima da criança e do adolescente. É preciso incentivá-los a não ser sempre o melhor, mas a sempre fazer o seu melhor, e comemorar suas conquistas. A autoestima protege contra a desesperança e o amor e a empatia jamais devem ficar de fora dessa equação.

Comunicação e confiança são palavras-chave: saber analisar a situação, incentivar e encorajar o jovem a trocar ideias, a falar sobre seus conflitos e, novamente, estar aberto a ouvir sem julgamentos ou repressões, é papel do adulto responsável, lidando com o sofrimento daquela pessoa e com suas questões com seriedade, sensibilidade e respeito.

Vale ressaltar a necessidade de supervisão daqueles que demonstram comportamentos de risco para fins de prevenção. Se constatada a propensão ao ato suicida, não custa remover de seu local de convívio itens como facas, armas de fogo, medicamentos, drogas, bebidas alcoólicas e outros itens nocivos com o objetivo maior de preservar a vida.

Apoio médico é essencial. O encaminhamento da criança ou adolescente com tendências suicidas a profissionais qualificados como pediatras, psicólogos e psiquiatras pode salvar uma vida!

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Comunicação e confiança: é preciso incentivar e encorajar o jovem a trocar ideias, a falar sobre seus conflitos.

O papel da mídia

A mídia tem forte influência em comportamentos, crenças e atitudes da população. Por isso, quando noticiada, a temática do suicídio deve ser tratada com extremo cuidado e sensibilidade. Disseminar a informação de forma apropriada é um elemento essencial para o sucesso da prevenção ao suicídio, segundo o Manual de Prevenção do Suicídio para Profissionais da Mídia, da Organização Mundial de Saúde.

Estudos mencionados em documentos da Organização Mundial da Saúde evidenciam o aumento no número de casos de suicídio a partir de um caso evidenciado pela mídia. E o impacto parece ser ainda maior entre os jovens.

Com a rapidez e as facilidades da internet, infelizmente não é raro ouvirmos sobre casos de jovens que se suicidaram ao vivo, em frente às câmeras, dentro de seus quartos. São perfis vulneráveis e para prevenir e evitar a o comportamento suicida nessas pessoas, cabe aos meios de comunicação fazer uma cobertura correta dos fatos, com fontes autênticas e estatísticas reais, sem generalizações, sem sensacionalismo ou banalização dos fatos, sem dar detalhes de como ocorreu, e sem expressões como “epidemia de suicídio” ou “lugar com maior índice de suicídio”.

Além disso, deve-se abandonar explicações como “resposta a mudanças culturais ou à degradação da sociedade”, e é importante evidenciar os danos físicos do ato suicida, como por exemplo os cerebrais, a fim de dissuadir tentativas de suicídio.

A mídia deve ainda divulgar serviços em prol da saúde mental, locais onde obter ajuda, telefones, listas com os sinais de alerta e sempre demonstrar empatia aos sobreviventes, levando em consideração sobretudo os familiares da vítima.

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