Hoje falaremos de um assunto que, equivocadamente, é considerado um dos maiores “tabus” sobre o Acolhimento Familiar: o momento de separação da criança ou adolescente de sua família acolhedora, seja para retorno à família de origem ou extensa, seja para viver com sua nova família através da adoção, também chamado de desacolhimento familiar. Esse receio é facilmente vencido quando começamos a compreender mais a fundo o Acolhimento Familiar, sua função e como ele ocorre.
O trabalho desenvolvido pelas equipes técnicas na capacitação das famílias acolhedoras e na preparação das crianças e adolescentes antes, durante e depois do acolhimento familiar, deixa claro que o acolhimento familiar é uma medida temporária, que visa ajudar a criança ou adolescente por um determinado período, até que sua situação seja resolvida. Isso não quer dizer que a família acolhedora não deva se apegar à criança, muito pelo contrário.
Se houver apego significa que o Acolhimento Familiar deu certo. Que se cumpriu o que era esperado, afinal é esse o sentido do Acolhimento Familiar: desenvolver vínculos seguros, de amor e afeto que serão fundamentais para a criança ou adolescente.
A criança ou adolescente que se sente amado e cuidado por sua família acolhedora desenvolve uma sensação de ‘porto seguro’ e adquire mais recursos emocionais para lidar com os desafios em sua vida. É impossível construir esse vínculo sem apego. A família acolhedora, por sua vez, tem plena noção de que deve proporcionar ao acolhido um ambiente seguro e amoroso que dê a ele condições de se desenvolver, assim como é preparada para o momento do desacolhimento e sabe que esse período é transitório – o que não impede que os vínculos permaneçam, a depender do caso, com a família de origem ou adotiva.
Quando a situação da criança for definida – seja o retorno para a família de origem, a ida para a família extensa, como tios e avós, ou a colocação em nova família pela via da adoção – os laços não serão cortados abruptamente.
No momento do desacolhimento, criança e família acolhedora passam por uma transição com o apoio da equipe técnica, composta por psicólogos e assistentes sociais. O processo de Acolhimento Familiar é organizado para contemplar também esse momento, tratando-o com naturalidade e tranquilidade para atender o melhor interesse da criança ou adolescente.
De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o prazo máximo atual para o acolhimento, tanto institucional quanto familiar, é de dezoito meses, ou seja, um ano e meio de convivência entre a criança e a família acolhedora, mediante guarda provisória emitida pela autoridade judiciária. No entanto, em não havendo interessados na adoção, o Acolhimento Familiar pode ser de longa duração e se estender até o prazo previsto por lei, que em alguns serviços vai até os 18 anos e em outros até os 21 anos, dependendo do programa.
Importante destacar que, de acordo com a lei, famílias cadastradas em serviços de Acolhimento Familiar não podem se cadastrar para adoção no Sistema Nacional de Adoção e vice-versa. Ou seja, pretendentes à adoção não podem se tornar famílias acolhedoras, e famílias acolhedoras não podem se tornar pretendentes à adoção.
Voltando à questão do apego, deve ser considerado sempre o ponto de vista da criança e do adolescente no processo de desacolhimento. Para quem acha que eles podem sofrer, um bom exemplo que ajuda a colocar luz nesse delicado tema é a relação entre avós e netos: sabemos que, pelas leis naturais da vida, haverá́ uma futura separação entre a criança e o idoso, com o falecimento dos avós antes dos netos. E nem por isso, nós enquanto pais, evitaríamos o convívio entre eles – o importante são as experiências positivas que se constroem ao longo da vida.
Sabemos que esse apego seguro e afetuoso, cria memórias positivas e felizes nas crianças, que se lembrarão com carinho dos tempos em que conviveram com seus amorosos cuidadores. O sofrimento pela saudade é uma realidade que todos aprendemos a lidar e é parte inerente do relacionamento humano.
No acolhimento familiar não devemos fantasiar que seria diferente. Quando amamos, sentimos saudade. Esse sentimento faz parte da vida, mas queremos o melhor para aquela pessoa. Além disso, nada impede que, a depender do caso, após o fim do período de acolhimento familiar, a criança ou o adolescente mantenha contato com a família que o acolheu, mesmo que não viva mais diariamente com eles.
O vínculo e a relação de amor oferecidos pela família acolhedora serão de fundamental importância para toda a vida da criança ou adolescente, exercendo importante papel mesmo em sua vida adulta.
E claro, como uma boa via de mão dupla, a família acolhedora, através dessa convivência, também passará por transformações que com certeza só trarão benefícios!
É esse o sentido do acolhimento familiar: cuidar por amor e pela esperança de ajudar a mudar o futuro de alguém que tanto precisa! Saiba mais sobre o Acolhimento Familiar, seus benefícios e o passo a passo sobre como realiza-lo através do nosso e-book sobre o tema, que você pode baixar gratuitamente clicando aqui.