Apenas uma em cada quatro crianças atendidas pela Atenção Básica (o atendimento inicial dos serviços do Sistema Único de Saúde, o SUS) no Brasil realiza no mínimo três refeições por dia, de acordo com pesquisa feita pelo Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional do Ministério da Saúde (SISVAN).
De acordo com informações obtidas pelo portal G1, os anos de 2020 e 2021 tiveram queda no número de crianças entre 2 e 9 anos em todo o Brasil que se alimentam três vezes ao dia. Entre janeiro e outubro de 2021, somente 26% das crianças atendidas na faixa etária citada acima contavam com café da manhã, almoço e jantar diariamente. Em 2020 esse índice era ainda pior, com apenas uma a cada cinco crianças tendo acesso à uma alimentação adequada.
Boa parte desses números trágicos se deve à pandemia, que privou as crianças de irem à escola – para muitas, era o único local onde tinham acesso à comida. Outra razão foi a crise econômica, pois sabemos que muitas famílias tiveram perdas salariais ou perderam seus empregos.
Outra explicação está naquilo que se come, pois também vamos conversar aqui sobre a qualidade da alimentação, fator ainda mais importante para combater a desnutrição infantil.
A desnutrição infantil é uma doença que ocorre devido a fatores clínicos, como alterações no trato intestinal, e também sociais, como a pobreza. Caracterizada pela deficiência de nutrientes devido à privação alimentar, afeta o crescimento da criança e seu desenvolvimento psicomotor como um todo, com prejuízos até para a vida adulta, além de aumentar os índices de mortalidade devido à recorrência de doenças infecciosas pela falta de imunidade.
Relatório da ONU de 2021 mostrou que mais de 149 milhões de crianças menores de cinco anos sofrem de desnutrição em todo o mundo. No Brasil, do início do ano até setembro de 2021 foram registradas 3061 mortes de crianças, com a insegurança alimentar agravada pela pandemia do coronavírus e pela crise política e econômica.
A desnutrição infantil, claro, enfraquece o corpo. Entre os sintomas que podem ocorrer estão: anemia, cansaço excessivo, pele pálida ou ressecada, deficiências no sistema imune, com maior incidência de doenças, irritabilidade, queda de cabelo, falta de ar e diminuição da massa muscular, além de comprometimento no funcionamento de determinador órgãos como fígado, coração e pulmões caso a desnutrição atinja graus severos.
Ao perceber os sintomas de desnutrição, é importante levar a criança ao pediatra para que seja feito o diagnóstico e então o início do tratamento e encaminhamento para um nutricionista para que sejam verificadas as necessidades de cada caso.
Alimentação saudável e nutrientes
Engana-se quem pensa que a solução para a desnutrição infantil seja apenas aumentar a quantidade de alimentos ingeridos. Antes, é preciso se atentar à qualidade dos alimentos, pois estamos falando justamente de uma deficiência de nutrientes. A dieta pode variar de acordo com a necessidade da criança: se ela precisa de mais proteínas, mais calorias, mais vitaminas e minerais e por aí vai.
Alimentos ultraprocessados, ricos em açúcar e farinha, costumam ser mais baratos, facilitando o acesso da parcela mais pobre da população e agravando ainda mais o problema, já que favorecem o ganho de peso, mas não fornecem nada além de calorias. Assim, é possível encontrar crianças que estão até mesmo acima do peso, e ainda assim sofrendo desnutrição. O recomendável é a substituição de biscoitos, doces e refrigerantes – alimentos altamente palatáveis, mas pobres em valor nutricional – por alimentos naturais, como frutas e verduras.
A escola também tem papel importante no ensino e conscientização quanto a hábitos alimentares saudáveis. O que a criança aprende na escola sobre alimentação saudável e quais alimentos deve ingerir para ter uma boa saúde, ela leva para casa, para a convivência de seus familiares.
Desafios na hora da refeição
Além da dificuldade financeira e estrutural, há outros obstáculos a se considerar quando falamos em nutrição infantil: a dificuldade que as crianças têm em comer, seja porque não aceitam determinados alimentos, seja porque comem muito depressa. Nesse caso, a dica para os pais é tornar o momento mais lúdico e prazeroso, montando o prato junto com a criança, por exemplo, e até mesmo “brincando com a comida”. Apesar de nosso pais sempre terem dito que com comida não se brinca, formar desenhos com as cores e formas dos alimentos no prato pode tornar a experiência mais agradável, sobretudo com crianças menores.
Fora isso, faz-se necessário evitar outras distrações, como brinquedos e vídeos na telinha do celular. A refeição deve ser um momento natural e tranquilo e os pais devem encorajar a criança a comer os alimentos, mas deixá-la decidir se de fato vai comer naquele momento e o quanto vai comer. Essa divisão de tarefas é saudável à medida que demonstra respeito ao espaço da criança, reforçando os vínculos entre cuidador e criança, e não cria um sentimento negativo em relação à determinado alimento.
Crianças um pouco maiores e com a compreensão mais desenvolvida podem ser encorajadas a comer sozinhas, desde que observadas de perto. E quando ela se mostrar satisfeita, ótimo, lembrando apenas de um detalhe de suma importância, mas que até mesmo nós adultos vivemos esquecendo: sempre ingerir água nos intervalos entre as refeições.
E como sempre reiteramos por aqui: infelizmente ainda estamos longe dessa realidade, mas devemos fazer nossa parte enquanto sociedade para que toda criança tenha refeições dignas todos os dias, além de ficar de olho e cobrar as autoridades por mais programas e políticas públicas de combate à fome em todo o Brasil.
*Com informações dos portais G1, UFMG, Nutritotal e TuaSaúde.