A adolescência é um período conturbado para a maioria das pessoas, pois se trata de uma época cheia de descobertas, conflitos e questões. É nessa época que vamos deixando de lado a infância e nos preparando para a vida adulta, sem que sejamos ao certo um ou outro. São mudanças neurológicas, físicas e comportamentais que alteram nossa percepção do mundo ao redor.

Para os adolescentes que se encontram em acolhimento essas questões não são diferentes, mas ficam ainda mais complicadas, pois vêm acompanhadas dos traumas pelos quais passaram na infância e das incertezas que cada vez mais eles começam a sentir em relação ao futuro. Como lidar com esses jovens que estão em acolhimento institucional (abrigos) ou em Acolhimento Familiar?

Primeiro, é preciso lembrar que o acolhimento é aplicável a crianças e adolescentes sempre que seus direitos forem ameaçados ou violados. Tanto o acolhimento institucional quanto o familiar são temporários e têm como prazo máximo 18 meses, mas sabemos que a realidade é bem diferente, e muitos permanecem mais tempo do que o previsto por lei. Desde 2009, o ECA estabeleceu o acolhimento familiar como prioritário ao institucional, mas o Brasil avança a passos largos e a esmagadora maioria de crianças e adolescentes ainda continua em abrigos e casas-lares (cerca de 95% do total).

As particularidades no acolhimento de adolescentes

No caso de adolescentes, o acolhimento tem certas particularidades. Conforme falado acima, é uma fase de muitas mudanças e incertezas e a experiência mostra que as dificuldades se agravam ainda mais no caso da permanência prolongada em abrigos. Por isso, há muitos defensores das vantagens do acolhimento familiar para essa fase, pois permite que o adolescente tenha convivência familiar e comunitária e maior chance de se preparar para a vida e o mercado de trabalho.

O Acolhimento Familiar pode se estender até o prazo previsto por lei, que em alguns serviços vai até os 18 anos e em outros até os 21 anos. 

O Artigo 227 da Constituição Federal Brasileira deixa claro que o direito à convivência familiar é “absoluta prioridade” para a infância e a adolescência. Estudos comprovam que a falta de vínculos estáveis e estímulos adequados trazem inúmeros prejuízos ao desenvolvimento psicológico, motor e cognitivo. Por isso, o acolhimento familiar é mais recomendado em todo o mundo.

Acolhimento Familiar de adolescentes 1

Imagine então o quão complicado é para um adolescente, que está em uma fase onde se valoriza muito mais a individualidade, encontrar-se no acolhimento institucional, sem poder expressar por completo suas características individuais, suas ideias e anseios, muitas vezes até mesmo sem saber como fazê-lo. Isso gera problemas na forma de se ver, na saúde emocional e no desenvolvimento integral do jovem, motivo mais do que suficiente para que o adolescente também seja colocado em uma família acolhedora o quanto antes, com todo o estímulo, aprendizado, atenção e vivência que sua faixa etária exige.

A transição para a vida adulta

Jovens que se encontram no acolhimento institucional, ao completarem dezoito anos, muitas vezes não se mostram preparados para lidar com a vida adulta e independente, pois apresentam déficit escolar, dificuldades no estudo e no aprendizado. No lar temporário da família acolhedora, o adolescente poderá criar vínculos estáveis, compartilhar experiências e absorver aprendizados através de um relacionamento construído diariamente, com muita confiança e afetividade mútua. Assim, sua base será muito maior para lidar com as dificuldades que a vida adulta pode lhe trazer no futuro.

O ambiente familiar ajuda a restaurar os vínculos e a afetividade, e é uma forma de compensar a falta de estímulo que ocorre no acolhimento institucional, apesar dos esforços dos profissionais que se encontram nas instituições. Além disso, dependendo da idade, o adolescente que está junto a uma família acolhedora tem mais condições de estar a par da própria situação e em que pé ela se encontra, e essa consciência do processo traz muito mais segurança a ele.

Segundo dados do Conselho Nacional de Justiça, hoje quase metade das crianças e adolescentes acolhidos em instituições tem mais de 12 anos. A situação se repete na mesma proporção para aqueles que estão aptos para adoção. Do total de 46.057 pretendentes cadastrados no Cadastro Nacional de Adoção, apenas 71 aceitam adolescentes com até os 17 anos de idade, ou seja, cerca de 0,15% do total.

Acolhimento Familiar de adolescentes 3

Quando houver irmãos com laços afetivos, recomenda-se o acolhimento familiar conjunto para ambos, conservando os laços de parentesco e preservando sua história de vida e referência familiar. O mesmo ocorre quando a adolescente tem filhos, e caso não seja possível realizar esse tipo de acolhimento, recomenda-se privilegiar famílias que morem próximas e tenham vínculos entre si, facilitando a manutenção das visitas e garantindo a convivência e o contato entre irmãos, pais e filhos.

Na transição para a vida adulta, ou seja, no momento do “desacolhimento”, o desligamento deve ocorrer de forma gradual. De forma geral, vemos que esse desligamento acontece de forma mais abrupta e sem preparo no acolhimento institucional. Daí as vantagens para os adolescentes que estiveram no acolhimento familiar, que contam com um preparo maior e  vantagens evidentes para a vida cotidiana, até mesmo para atividades comuns do dia a dia como cozinhar, saber o preço dos itens no mercado e muito mais, e sobretudo para a vida em sociedade e inserção comunitária.

O Acolhimento Familiar de adolescentes é singular devido às particularidades da idade, por isso é preciso capacitar cada vez mais famílias para essa modalidade, com todo o preparo necessário a fim de sensibilizar sobre o tema e capacitar a família acolhedora.

 

 

 

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